Amor à francesa
Em tempos de INTERNET, a paquera tomou conotações digitais, os enamorados na confiança de poder conversar e até trocar imagens, perderam a timidez e a paquera rola solta. Diferentemente de um tempo atrás quando as pessoas faziam amizade por carta e até se apaixonavam, constituindo família via Correios.
Muitas pessoas se enganam e até se expõem à violência por causa das aventuras virtuais, como foi o caso dessa nossa amiga.
Cláudia, mãe solteira, tem uma filha de sete anos de idade, mora com os pais e um irmão, é uma pessoa sonhadora e desiludida com o antigo amor, justamente o pai da sua filha Catarina.
A exemplo de sua amiga que se casou com um estrangeiro, a moça resolveu engendrar-se no mundo virtual, com a cara e a coragem. Comprou um "net top" somente para encontrar o seu príncipe; inscreveu-se em um site de namoro e mandou "ver" na sua imaginação.
Os dias para a nossa amiga tornaram-se mais curtos, pois "curtir" virou aquele fenômeno da cibernética; conheceu até um francês de meia idade de nome Jean, um tentava falar português e a mulher sonhava fazer biquinho.
A amizade dos dois foi se consolidando, o sonho foi aumentando, ela já não saía mais, pois o fuso horário agora era francês e o mundo virtual.
Os meses foram se passando, ela era muito preocupada com a sua aparência, porque não se achava a mais bonita das baianas e não poderia sequer mostrar "o que é que a baiana tem".
Sonhava em fazer plástica para esconder as estrias e muitas outras imperfeições; tentou até fazer uma cirurgia à prestação, mas a sua situação financeira não estava tão boa assim, fora que já havia comprado diversos produtos e "esquecido" de pagar, inclusive o "net top".
Dizia que tudo era investimento, pois quando o francês chegar tudo iria mudar, indo para nas nuvens...
Um ano depois de tanto sonho, não é que o gringo tomou coragem e foi conhecer a sua princesa?
Com a desculpa de procurar investimentos no Brasil, ele terminou fazendo pousada na casa de Cláudia, que já havia preparado tudo do bom e do melhor, pena que o bairro dela não ajudava, era em um lugar comercial e perigoso, como em todo lugar que só funciona o comércio, à noite sabes como fica...
A família recebeu o estrangeiro com a maior boa vontade, preparou um verdadeiro "breakfest" para quando ele acordar, com talheres novos, toalhas e tudo que uma pessoa desesperada para agradar alguém pudesse fazer.
A menina Catarina, pulou no colo do homem, como se o conhecesse de verdade, só faltou chamá-lo de "papá", ele sou dava uma risada desconfiada.
O final de semana passou rapidamente, passearam de navio, mesmo demorando horas para o "Ferry Boat" chegar, foram na folia para Itaparica, ficaram na casa de um amigo dela e tentaram se "entender", o pior que esse entendimento era todo no escuro, só o braile podia tentar decifrar esses códigos.
Voltando para o continente, eles foram para casa e deixaram as suas respectivas bagagens, após tomarem um banho, ela foi mostrar para o gringo o Pelourinho, andaram aquilo tudo, mas o estômago já estava "roncando", desesperada para almoçar, foi sugerido um restaurante, o pior que ele não queria gastar nadinha, terminou levando-a num boteco para comer um bolinho de bacalhau com refrigerante, o homem era mesmo mão fechada, a sonhadora era quem resolvia comprar lanches, nem acarajé ele queria provar para não "coçar" o bolso, quem não desejaria uma acarajé vindo à Salvador?
As coisas não pareciam ir bem, estavam tomando um rumo estranho, muito estranho... Até o transporte ela teve que pagar para ambos, entrando em um ônibus lotado, ele só sabia dizer "oui...", "oui..." e sorrir...
Chegando à casa da "vendedora de sonhos" o homem foi tomar banho e ficou no "lep top" digitando, não queria nem mais conversar.
A mãe de Cláudia, Dona Teresa percebeu que a coisa estava andando para trás e chamou os dois na "chicha", querendo saber se ele ia assumir a filha e qual era o plano do "casal" para o futuro, mas o homem disfarçava, era escorregadio igual a sabão.
Ao amanhecer, o café da manhã não era mais essa coisa toda, ele chegou até a cobrar o queijinho no pão, mas o pessoal dizia que a coisa não estava boa, pois Augusto, o pai, tinha viajado e não retornara ainda.
Cláudia, cheia de expectativas, preparou uma estratégia para "queimar" uns dias de trabalho, indo ao hospital público da redondeza, para ver se "descolava" um atestado.
Só que nesse ínterim, o francês já estava de malas prontas pra "cair" fora, na surdina, foi quando Dona Teresa interceptou o incauto e gritou que a filha dela não era cachorro, que sabia que ele não estava muito interessado, mas que teria que olhar nos olhos da sonhadora para dizer o motivo, foi quando tomou-se de coragem e passou o cadeado no portão para impedir a retirada estratégica do homem, à francesa...
A confusão se instalou, a velha Tereza gritava de um lado, ele dizia "oui..." de outro, a menina chorava em outro canto, dizendo que queria conhecer a França e nessa balbúrdia Cláudia chegou com o atestado na mão.
Assustada, perguntou o que estava acontecendo, como se não soubesse, a mãe falava que ele era um enganador, ia sair escondido, à francesa e que trancou o portão até a filha chegar, a mulher disparou uma crise de risos e de choro, até que conseguiu cair em si.
Jean já estava saindo com as malas, ela o seguiu correndo atrás, perguntando o motivo, que já estava preparada para casar, inquirindo a razão da saída, ele disse não gostar o suficiente dela para casar...
A moça começou a "sair" de si, gritando por Deus, chorando e falando em pleno desespero, a vizinhança gritava, urrava... Enquanto o homem saia de mansinho, "pegando" o táxi e ganhando esse mundão chamado Brasil.
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