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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Saci


Saci 





Todo dia quando estava dormindo, lá pelas tantas da noite, percebo uma grande confusão, uns meninos gritando, conversando, mas quando a gente está naquela de “levanta-não levanta”, fica parecendo que tem uma tonelada encima da gente e termina passando a noite. 
A gente ouve risadas, gritaria, parecendo um monte de crianças jogando bola. 
- Mas como é que as crianças jogam bola, lá pelas tantas da madrugada e ninguém reclama aqui no fundo do condomínio? 
Essa questão eu teria que resolver sozinho, até que em mais uma madrugada eu vi novamente o tormento das gritarias, mas só enxergava vultos, não conseguia ver nada naquela escuridão em meio às árvores. 
Fiz de tudo para pegar aqueles meninos de surpresa, será que estou ficando doido? Só eu ouço essas vozes de meninos fazendo balbúrdia no quintal. 
Eu falava com a vizinhança e nada de ninguém se pronunciar, decidi colocar até câmera no quintal, mas só pegavam esses vultos, às vezes dava para colocar na câmera lenta e a gente via um capuz vermelho, uma coisa intrigante. 
Eu não sou de deixar nada pela metade, isso já consumia a minha curiosidade por demais e o pior que ninguém acreditava nessa “risadaria” no quintal, contudo eu não desisto, comecei a pesquisar aqui mesmo na web, onde de primeira veio falando sobre Saci-pererê! 
Como eu poderia acreditar nessa crendice de criança, eu assistia na Tv sobre esse personagem da fábula que Monteiro Lobato tanto escrevia em suas obras, mas como sabemos esse tipo de coisa não existe... 
Devia ser algum menino aprontando com aquelas gargalhadas estranhas, mas como não perdemos nada ao tentar, resolvi ir a fundo na “brincadeira” de Saci... 
Dona Web mandou comprar uma peneira de cruzeta, uma rolha de cortiça e uma gaiola, que prontamente fui lá no mercado das Sete Portas, providenciar os materiais para a minha “brincadeira” ou o que quer que possa chamar isso. 
Essa “risadaria” tinha que passar, meu sono é de passarinho e acordo cedo, e ninguém toma providências... 
Fiquei por vários dias tentando encontrar o motivo daquela loucura, percebi que sempre vinha uma ventania muito forte em forma de redemoinho, antes daquela gritaria, fui aprendendo com o tempo sobre esse molequinho, mesmo na desconfiança, ou ele ia preso na minha garrafa, ou eu entrava pelo cano, seria dado como doido ou coisa pior, o pessoal do condomínio já estava desconfiado comigo, sempre de madrugada com aquele material estanho, de peneira e gaiola, eu dizia tanta besteira até que estava caçando mariposa ou procurando ninho de formigas, que horror... 
Mas numa noite bem quente e calma, saiu um redemoinho bem estranho, eu estava no meu posto de plantão, atrás da árvore, não sei o que era, só que pulei no ar e de repente apareceu um capuz, que rapidamente o arranquei. 
- Definitivamente era um Saci!?! 
Foi a maior gritaria, tinha gente na janela gritando e dizendo que eu tinha agarrado um menino da comunidade vizinha, eu até fiquei desconcertado, mas quando as luzes acenderam eu estava lá com um molequinho de uma perna só, todo suado, eu estava ainda com o seu capuz, mas em fração de segundo, veio-me à cabeça, não sei por qual motivo, que seria muito triste esse final para um personagem do nosso folclore. 
As pessoas começaram a descer para ver o que estava acontecendo, de lá de cima me viram todo sujo de terra com um menino, mas quando chegaram, só me viram com um pedaço de manequim marrom, que as crianças brincam de bater aqui no fundo, chamado Astolfo. 
Todo ficaram indignados com a minha “brincadeira” fiquei sendo hostilizado por muito tempo, até minha filha estava recebendo a rebarba, mas eu preferi ser tratado dessa forma do que prejudicar uma lenda e encarcerá-la numa garrafa somente para me exibir. 




Marcelo de Oliveira Souza,IwA 
Dr. Honoris Causa em Literatura 





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