Todo dia quando estava dormindo, lá
pelas tantas da noite, percebo uma grande confusão, uns meninos gritando,
conversando, mas quando a gente está naquela de “levanta-não levanta”, fica
parecendo que tem uma tonelada encima da gente e termina passando a noite.
A gente ouve risadas, gritaria,
parecendo um monte de crianças jogando bola.
- Mas como é que as crianças jogam bola, lá pelas tantas da madrugada e ninguém reclama
aqui no fundo do condomínio?
Essa questão eu teria que resolver
sozinho, até que em mais uma madrugada eu vi novamente o tormento das
gritarias, mas só enxergava vultos, não conseguia ver nada naquela escuridão em
meio às árvores.
Fiz de tudo para pegar aqueles meninos
de surpresa, será que estou ficando doido? Só eu ouço essas vozes de meninos
fazendo balbúrdia no quintal.
Eu falava com a vizinhança e nada de
ninguém se pronunciar, decidi colocar até câmera no quintal, mas só pegavam
esses vultos, às vezes dava para colocar na câmera lenta e a gente via um capuz
vermelho, uma coisa intrigante.
Eu não sou de deixar nada pela metade,
isso já consumia a minha curiosidade por demais e o pior que ninguém acreditava
nessa “risadaria” no quintal, contudo eu não desisto, comecei a pesquisar aqui
mesmo na web, onde de primeira veio falando sobre Saci-pererê!
Como eu poderia acreditar nessa crendice
de criança, eu assistia na Tv sobre esse personagem da fábula que Monteiro Lobato tanto escrevia em suas
obras, mas como sabemos esse tipo de coisa não existe...
Devia ser algum menino aprontando com
aquelas gargalhadas estranhas, mas como não perdemos nada ao tentar, resolvi ir
a fundo na “brincadeira” de Saci...
Dona Web mandou comprar uma peneira de
cruzeta, uma rolha de cortiça e uma gaiola, que prontamente fui lá no mercado
das Sete Portas, providenciar os materiais para a minha “brincadeira” ou o que
quer que possa chamar isso.
Essa “risadaria” tinha que passar, meu
sono é de passarinho e acordo cedo, e ninguém toma providências...
Fiquei por vários dias tentando
encontrar o motivo daquela loucura, percebi que sempre vinha uma ventania muito
forte em forma de redemoinho, antes daquela gritaria, fui aprendendo com o
tempo sobre esse molequinho, mesmo na desconfiança, ou ele ia preso na minha
garrafa, ou eu entrava pelo cano, seria dado como doido ou coisa pior, o
pessoal do condomínio já estava desconfiado comigo, sempre de madrugada com
aquele material estanho, de peneira e gaiola, eu dizia tanta besteira até que estava
caçando mariposa ou procurando ninho de formigas, que horror...
Mas numa noite bem quente e calma, saiu
um redemoinho bem estranho, eu estava no meu posto de plantão, atrás da árvore,
não sei o que era, só que pulei no ar e de repente apareceu um capuz, que
rapidamente o arranquei.
- Definitivamente era um Saci!?!
Foi a maior gritaria, tinha gente na
janela gritando e dizendo que eu tinha agarrado um menino da comunidade
vizinha, eu até fiquei desconcertado, mas quando as luzes acenderam eu estava
lá com um molequinho de uma perna só, todo suado, eu estava ainda com o seu capuz, mas em fração de segundo, veio-me
à cabeça, não sei por qual motivo, que
seria muito triste esse final para um personagem do nosso folclore.
As pessoas começaram a descer para ver o
que estava acontecendo, de lá de cima me viram todo sujo de terra com um
menino, mas quando chegaram, só me viram com um pedaço de manequim marrom, que
as crianças brincam de bater aqui no fundo,
chamado Astolfo.
Todos ficaram indignados com a minha “brincadeira”
fiquei sendo hostilizado por muito tempo, até minha filha estava recebendo a
rebarba, mas eu preferi ser tratado dessa forma do que prejudicar uma lenda e
encarcerá-la numa garrafa somente para me exibir.
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