Rapunzel
do Sertão
Numa região rural, ao nordeste da Bahia, tinha uma garota que se destacava
perante todas as outras famílias, que tinham como rotina, a subsistência na
agricultura, plantando e colhendo feijão.
As famílias sempre tinham uma renda baixa, contudo muita força de vontade, pois
todos participavam alegremente dos serviços de plantio na maior boa vontade,
onde era uma constante a amizade e união entre todos, sem falar na inocência
que caracteriza todos que habitam o agreste.
Nesse quadro, Mariana e sua família mantinham o seu cotidiano, em que aqueles
lindos olhinhos negros eram a janela para uma mente cheia de força de vontade e
de informação.
Certo dia, ao dirigir-se para a sede da cidade de Araci, a fim de vender o
produto do seu suor e desprendimento, Rivaldo, pai da nossa personagem,
deparou-se com um livro chamado: A história de Rapunzel, cuja capa existia uma
linda princesa com longos cabelos dourados numa das torres de um enorme
castelo, o que realmente encantou a nossa garota, que pediu ao seu pai um
exemplar do livro, pois a atraiu de pronto!
Como ela não sabia ler, teve que pedir ao seu pai que não era bom na arte de
decifrar aquelas letras, contudo sempre ao meio dia, após o almoço, Reinaldo
dava um jeito de concatenar as palavras e produzia um bom resultado.
Assim Mari, como era carinhosamente chamada, atentamente ouvia a leitura do seu
genitor, participando de cada uma “cena” emocionante e tentava gravar cada
parte para passar adiante, fingindo uma leitura, que realmente era o sonho
dela. As rodas iam se formando em um manto de admiração, pois uma garota tão
pequena lendo um livro! Era realmente de espantar a todos naquele quase
inóspito lugarejo, onde todos chamam vulgarmente de “roça”.
A garota percebeu que o mundo da leitura é a verdadeira porta para a
informação, diversão e sabedoria, por isso o seu grande desejo realmente era
aprender a ler aquele livro tão bonito e encantador, para de fato passar para
as outras pessoas, o que repentinamente apareceu a sua chance, pois a
prefeitura tinha acabado de designar uma professora para alfabetizar as pessoas
do lugarejo, lá na casa de farinha, onde as pessoas processavam a mandioca.
Com isso, a nossa garotinha conseguiu “decolar” no seu sonho e ao
alfabetizar-se, prosseguiu nos estudos, mesmo com uma defasagem diante dos
colegas, sempre se destacava, até no colégio daquela cidadezinha - cujo lugar
parece tão grande para quem vem dos distritos - em que ela tinha que ir de
carona numa carroça com um único morador que fazia o transporte de todos,
rotineiramente.
Hoje, a professora Mariana, trabalha em sua sala de aula com crianças
“sedentas” de informação igualzinho a ela, e sua amiga de tranças de mel,
trancada na torre do castelo, “puxa” os alunos da nossa grande personagem, para
o mundo mágico da leitura e do conhecimento ao ler aquele mesmo livro, mas a
fama da garotinha esforçada, que lutou para não ficar sem instrução ante as
outras com maiores oportunidades, deixou um feito, digno da estória infantil.
Suas tranças negras ficaram na imagem de todos os lavradores, que sempre ao
vê-la dizem: - Olhe a Rapunzel do Sertão!
Marcelo de Oliveira Souza,iwa
Do livro do Autor Conto & Reconto
Editora Celeiro de Escritores